quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tudo sobre Carmen... ou quase tudo!

O diretor Walter Neiva resume a ópera:
Em Sevilha na Espanha do séc XIX. Carmen é uma cigana que trabalha numa fábrica de cigarros. Sua beleza quente seduz os homens especialmente o inocente soldado Don José que se torna completamente obcecado.

Por esse amor, ele perde a farda e torna-se o amante até o ponto de fazer parte de um bando de contrabandistas, amigos da bela cigana. Pela liberdade de amar, Carmen acaba deixando o pobre amante para ficar com um famoso toureador. O soldado enfeitiçado então é tomado por um acesso de ira e ciúme.
... e fala sobre as curiosidades:
Carmen é uma música tão peculiar quanto o enredo e, por essa razão, foi motivo de igual controvérsia. A crítica, na imprensa da época, mostrou-se dividida. A maioria, é certo, tratou a ópera de Bizet como um espetáculo repugnante e obsceno. "Se fosse possível imaginar Sua Majestade Satânica escrevendo uma ópera, Carmen seria o tipo de obra que se esperaria", diria o Music Trade Review, de Londres.

Houve, porém, apoio: "Bizet quer pintar homens e mulheres de verdade, alucinados, atormentados pelas paixões, pela loucura. Assim, a orquestra conta suas angústias, seus ciúmes, suas cóleras e a insensatez geral", foi a avaliação publicada no Le National, de Paris.

A estréia de Carmen na Opéra Comique, em 1875, foi um desastre. Boa parte da crítica da época definiu a composição como sendo uma "música francesa querendo se passar por espanhola".

Apenas alguns meses após a estréia da ópera, Bizet morreu em seu sexto aniversario de casamento, no auge de seus 36 anos. A causa oficial da morte foi um ataque do coração, "reumatismo articular agudo". Foi enterrado no cemitério de Père Lachaise, Paris, France.

O compositor não testemunhou a extraordinária repercussão que sua ópera conquistaria logo a seguir. Elogios vieram de ilustres como Camille Saint-Saëns-Saëns, Piotr Tchaikovsky, e Claude Debussy, que reconheceram sem dúvida alguma a grandeza daquele músico revolucionário e foram proféticos ao acreditarem que a ópera se tornaria a mais popular de todo mundo.

O pensador alemão Nietzsche apaixonou-se pela obra de Georges Bizet, principalmente pela ópera Carmen, a qual assistiu dezenas de vezes. Seu primeiro contato com esta ópera foi em Nice, em 1887.

Nos dez anos seguintes, Carmen seria apresentada cerca de mil vezes, em diferentes montagens, por toda a Europa. Depois de arrebatar as platéias em sua versão lírica, também seria celebrada no século XX com várias versões cinematográficas, entre elas as dirigidas pelos cineastas Carlos Saura e Jean-Luc Godard.
... também da Carmen feminista:
Quase um século antes da liberação feminina, Carmen já era uma fonte de inspiração. A cigana de Bizet já se antecipava à mudança de comportamento feminino, com frases e atos contundentes como:
"O amor é um pássaro rebelde que ninguém pode aprisionar..."
"[o amor] não adianta chamá-lo, pois ele só vem quando quer."
"... e quando pensa tê-lo aprisionado ele se vai."
"Tu crês prendê-lo; ele te evita. Crês evitá-lo; ele te prende."
"Se não me amares, eu te amarei. Mas... se eu te amar, cuidado!"
"O meu coração é livre como um pássaro!"
"Quem quer a minha alma? Ela está livre!"
"Não tenho medo de nada. Carmen nunca cederá! Nasceu livre e livre morrerá!"

E os conselhos que Carmen dá a Don José:
“Você viverá a nossa vida errante, por pais terá o Universo, por lei a tua vontade e, sobretudo, a coisa inebriante, a liberdade.”
... e ainda, lembra da flor de Carmen:
Surpreende que ela não apareça nem com uma rosa cigana, nem com um cravo andaluz e sim com a flor de cassie, que é usada amiúde na perfumaria ancestral, que tem um aroma inebriante e doce e ainda adjetiva como perfume impudico. A flor acácia é descrita como pequeninas bolas amarelas (jaune soleil).

Segundo o texto de Mérimée, ela está vestida "com um saiote vermelho muito curto, que deixava à mostra as meias de seda brancas com mais de um buraco, e pequenos sapatos de marroquim vermelho atados com fitas cor de fogo. Afastava sua mantilha para mostrar os ombros, e um grande buquê de cássias saia de sua camisa. Trazia uma flor de cássia no canto da boca e avançava balançando os quadris como uma potranca do haras de Córdoba".

Então, todas as versões de Carmen com rosas vermelhas foram modificadas pelos diretores. No filme do Zefirelli, as cigarreiras usam hibiscos vermelhos nos cabelos – mas não rosas.

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